
Assim como muitos de nós, eu também navego pelos conteúdos criados pelo ChatGPT. Recentemente, me deparei com um texto gerado pela IA sobre “Desafios de Falar em Público”, um tema muito pertinente a mim e meu público, mas que me trouxe um estranhamento quanto à maneira como a ferramenta simplificou esse conceito. A partir daí, resolvi fazer um exercício: analisar a maneira como a inteligência artificial tem falado de um assunto que é da minha expertise e contrapor com a forma como eu raciocino o assunto. Não há intenção de sacramentar conceitos, e sim gerar reflexão. Dessa forma, eu mesma posso mudar de opinião diante de alguns comentários.
Deixarei em negrito o que o GPT trouxe.
GPT: Falar em público é uma habilidade essencial para profissionais de diversas áreas e, infelizmente, ainda se apresenta como uma das maiores fontes de ansiedade e insegurança. Mesmo pessoas experientes podem enfrentar desafios ao se comunicar diante de uma audiência. Vamos explorar os principais obstáculos enfrentados por quem fala em público e como superá-los de forma estratégica.
Acredito que existem três formas de resolver desafios como o do tema deste artigo. A primeira é paliativa, a segunda profunda e a terceira é a desidentificação.
GPT: O Medo do Julgamento.
Acredito que haja mais do que o medo quando tratamos de focar no ato de falar em público.
GPT: O medo de ser criticado ou julgado é um dos principais desafios enfrentados por quem fala em público. Pensamentos como “E se eu errar?”, “E se não gostarem do que eu digo?” podem paralisar até os mais preparados.
Mude o foco: Em vez de se preocupar com o que os outros vão pensar, concentre-se em entregar valor ao seu público.
Ainda que essa sugestão faça sentido, percebo que pode ser considerada um jargão ou, ainda, causar mais angústia em quem lida mal com a exposição em público, pois “entregar valor” para quem não confia no que carrega dentro de si, não endossa as próprias experiências ou não conhece bem o assunto que vai discorrer significa, consciente ou inconscientemente, rasgar as próprias fantasias, tirar as máscaras e deixar que o público veja em que momento de consistência a pessoa se encontra. E este é o ponto nevrálgico da questão que pede um olhar mais cirúrgico. Acredito, por experiência própria e por observar inúmeros clientes que dou mentoria, que o autoencurralamento pode, sim, ser muito prazeroso e fazer a virada da chave.
O que de fato significa ser julgado? Me parece que as pessoas se esquecem de que há os julgamentos positivos, os neutros e os negativos e que se apegam dramaticamente ao terceiro.
É evidente que gostamos dos julgamentos positivos, quando os outros se identificam e aceitam nossos pontos de vista, nossas experiências ou mesmo nossa aparência.
Podemos ficar frustrados com os julgamentos neutros, pois esperávamos algo melhor vindo do outro em relação ao que apresentamos.
E quando nos deparamos com os julgamentos negativos e nos vemos desendossados ou desinteressantes? Como ficamos? Com vergonha? Vergonha de não termos nos preparado melhor, de termos esquecido de falar algo importante, de não termos a resposta para uma pergunta feita por alguém da plateia ou reunião, de não termos sido tão carismáticos quanto algum outro palestrante? Com raiva? Por não termos recebido os aplausos esperados, porque fizeram uma pergunta capciosa ou porque ficaram olhando no celular durante a apresentação? Com medo? De fazerem uma pergunta justamente sobre o tema que sabíamos, desde o começo, que deveríamos ter nos aprofundado mais; medo de descobrirem que estamos com medo; medo de discordarem do nosso ponto de vista e de “nos colocarem contra a parede” depois de apresentarmos um conceito; medo de que descubram, por pequenos deslizes comportamentais, que, por trás da nossa conduta e imagem gentil e colaborativa, há uma pessoa com características opostas?
Julgamento é julgamento, e não seria justo, já que nos inquietamos com os negativos, fazermos a mesma análise sobre os positivos e neutros?
Valeria a pena então encarar o “como” lidamos com nossas contrariedades e também questionarmos se os julgamentos alheios são de fato julgamentos ou apenas observações e análises acerca do que apresentamos. Ou ainda, que eventuais julgamentos provenham de uma forma infantilizada dos julgadores por também não lidarem bem com contrariedades. Pode ser também que o que expusemos apresente dados comprovadamente errados, inconsistentes. Ou ainda que nossa teoria seja inovadora e que enfrentará refutações até que se comprove.
Vejam! Trago reflexões para entendermos o real valor e peso do julgamento de cada situação.
Acredito que se expor em público seja um exercício que, por vezes, transita pelo narcisismo, pelo puro ato de doar algo que se sabe, pelo estar a serviço, pela falsa modéstia, por um ato de humildade e pela resignação.
Ter clara a intenção de por qual razão pretendemos ou precisamos falar em público é o norte que pode dissipar os monstros inventados ou dar propulsão para que haja uma boa preparação para tal!
E, por último, a desidentificação, que abre mão das reflexões, dos sentimentos e simplesmente sugere que vá em frente e faça o que estiver ao seu alcance para apresentar a sua palestra sem se apegar aos elogios ou críticas. Simplesmente estar a serviço!